Na vila onde a menina Alice
mora com a sua família é muito quente, quase não chove e quando chove ela se
encanta com o toc...toc, dos pingos no telhado. Em frente a sua casa tinha uma
mangueira centenária, ao lado corre um riozinho que só tinha água quando
chovia.
Naquela vila, só tinha um
caminhão que servia para levar às pessoas quando precisassem ir até a cidade,
todos andavam de bicicleta o que fazia do lugar um lugar mágico.
Às tardezinhas, todos
colocavam as cadeiras na calçada, enquanto os adultos colocavam os papos em
dias, as crianças aproveitavam para brincar de amarelinha, pega, pega, esconde,
esconde e pular corda, brincadeiras preferidas das crianças.
Certo dia, Alice se pegou
perguntando: - “O que vou ser quando crescer”?
Aquilo ficou martelando em sua
cabeça: Pensou: Ajudo minha mãe a cuidar da horta, do nosso pequeno jardim,
lembrou-se da mangueira já velhinha com seu porte majestoso. Já sei, vou
começar a plantar outras mangueiras, primeiro em meu quintal, depois nos quintais
de toda a nossa vizinhança.
Vou ser ambientalista, minha
primeira tarefa é proteger a nossa mangueira, quero ajudar o povo da nossa vila
a ter mais qualidade de vida, só com plantio de muitas árvores teremos um ar
limpo, cheio de oxigênio.
No dia seguinte, saiu correndo
falar com o seu avô, um homem respeitado por ser o mais velho da vila.
Enfim, essa é uma questão para
pensar depois, agora tenho que estudar, crescer e pensar no futuro.
- Não adianta ter pressa-disse
o avô sorrindo para a netinha.
Alice acalmou seu coração, meu
avô está certo, quando chegar a hora saberei escolher. Mesmo que até lá já
terei aprendido muitas coisas, no momento meu objetivo é defender a nossa
mangueira.
A ESCOLA
A escola onde Alice estudava era única da vila, pequena,
apenas duas salas de aula, o intervalo todas as crianças lanchavam e brincavam
embaixo da mangueira que também era o pátio da escola. Mas tinha uma salinha
onde funcionava a biblioteca cheia de prateleiras com livros ilustrados. Era o
local preferido da Alice, quando não estava na sala de aula.
Quanto mais ela lia historinhas, mas vontade ela tinha de
escrever a história da mangueira. Os textos que ela produzia eram bem
elaborados, a professora fazia questão de ler em voz alta, assim, incentivava a
classe a seguir os passos da colega.
De tanto incentivar sua turma, a professora criou a
primeira maratona de leitura, não seria apenas na sala de aula, convidou toda a
comunidade, envolveria professores direção, pais e vizinhança.
De início, foi trabalhado na sala, da turminha da terceira
série. Na culminância da maratona a ideia era escolher um texto que falasse
claramente de um assunto conhecido por todos. Para isso, montou um júri com
convidados da cidade, vieram vereadores, o prefeito, a secretária de educação e
até o padre.
Cada texto era bem elaborado, escolheram três finalistas,
no final a vencedora por unanimidade foi o texto da Alice, sem nenhuma dúvida
ela escrevia muito bem.
Foram muitos aplausos, medalha, certificado e um presente
surpresa. Ao ver o tamanho da caixa todos ficaram curiosos, ao abri os olhos de
Alice brilharam, a caixa estava cheia de livros de histórias. Emocionada, o
rostinho banhado de lágrimas enquanto era fotografada e abraçada por todos.
NATUREZA AMEAÇADA
Na viva, o ritmo era diferente da cidade, as pessoas viviam
tranquilas sem pressa, deixavam que o tempo andasse no seu passo. Sem luz
elétrica, as noites todos se reuniam embaixo da velha mangueira, lugar sagrado
para o povo que nasceu e continuam vivendo no lugar.
Como dizia o velho, mais velho da região,” a nossa vida
flui como as águas do rio, no retorno da natureza, sem agitação, só na
tranquilidade”.
A visita do prefeito, ativou a maldade de um ou dois
moradores que começaram a reclamar da sujeira que a mangueira fazia. Em poucas
palavras, ameaçavam a vida da velha mangueira tão querida.
Certo dia, espalhou-se a notícia de que o prefeito estaria
enviando uma equipe para derrubar a mangueira, no lugar seria construído uma
praça toda acimentada.
Alice começou a chorar desesperada dizendo:
A mangueira é muito mais velha que todos os moradores dessa
vila e da região, ela é o nosso lugar das brincadeiras, das reuniões da escola,
das famílias e abrigo de muitos passarinhos e outros bichinhos que precisam de
sombras.
Além disso, símbolo de referência da nossa vila. Vamos nos
unir, não vamos aceitar que derrubem a Anastácia. Gritou.
Anastácia! Gritaram
todas as crianças.
Sim! A mangueira foi batizada com o nome da senhora que
plantou uma mudinha de mangueira e cuidou até que ficou adulta. Aqui segundo eu
pesquisei, ela se sentava em sua cadeira de balanço para tricotar e conversar
com as vizinhas.
O PASSEIO
Era quase Natal, como todos os anos a família visitavam os
avós paternos que moravam no alto de uma montanha. A casa era como num conto de
fadas. Toda branquinha, portas e janelas azuis, rodeada com árvores e muitas
flores. Um recanto que se respirava paz e harmonia, no teto, uma janela aberta
para o céu onde era aberta para que a brisa entrasse deixando a casa
refrescante, a noite, todos poderiam apreciar o céu cheio de estrelas e a Lua
emoldurando a casa.
A avó de Alice, uma senhorinha sábia que guardava mil
sonhos e bochechar que salientavam quando sorria. Era muito carismática,
deixando Alice cheia de mimos.
O canto da passarada era mais alegre, lotavam o terreiro
para se alimentarem junto as galinhas, patos, perus e os belos gansos, tinha
até um pavão branquinho, quando abria seu leque parecia uma noiva com vestido
rendado.
No quintal, a vovó plantava de tudo, folhas de chá,
hortaliças e algumas flores como os cravos e as azaléas.
Dentro da casa aconchegante o fogão de lenha para aquecer
as noites frias e assar pão e fazer doces e compotas.
Na sala, cadeiras acolchoadas com pelos de carneiro,
convidando todos a se sentarem para ouvir as belas histórias. Uma estante cheia
de livros onde o vovô contar e encantar com suas histórias, levando todos a
viajarem no mundo da imaginação.
Era costume, após o jantar servido na mesa grande da
cozinha todos se sentarem na varandinha para tomar chá de hortelã com biscoitos
de araruta feitos pela sua avó, enquanto se admiravam com a Lua beijando as
flores com seus raios luminosos, enquanto o vento travesso, brincava nos galhos
das árvores tirando o sossego dos passarinhos que dormiam em seus agasalhos.
Assim, é a casinha dos avós de Alice, lugar encantado, um
lar dos sonhos de todas as crianças e adultos também.
O PROTESTO
Aquele dia, Alice aproveitou que o prefeito estava na vila
para realizar um comício, estava em busca de apoio para as eleições.
Quando todos estavam na pracinha em frente a mangueira, a
menina sem pedir licença arrancou o microfone das mãos de uma mulher e disse em
voz alta:
-Que mania de vocês querer destruir com o que está velho.
Nossa mangueira chegou aqui muito antes de formar essa vila, não vamos cruzar
os braços e deixar que matem a nossa história. Se querem mostrar serviços,
tragam água e luz elétrica, um posto de saúde e melhore a nossa escola.
Tentaram interromper o discurso daquela pequena menina. O
padre interferiu dizendo: - A menina está certa, essa mangueira é a segunda
casa de todos, a varanda para o bate papo, o quintal para varrerem, o parque
das crianças e o templo sagrado para reuniões da nossa Capela. Além de produzir
bons frutos que é consumido por todos. Será que não aprenderam a importância de
se cuidar e preservar o meio ambiente?
Todos que estavam presentes gritavam em tom alto:
- Não mate a nossa mangueira, plante outras. Vamos apoiar
Alice.
O silencio caiu como
um véu, o prefeito e sua comitiva saíram sem mais uma palavra.
A UNIÃO FAZ A FORÇA
, discurso. Foi criado um conselho em defesa da mangueira,
o avô de Alice e o padre ficaram responsáveis sem deixar nenhum morador de
fora.
A pracinha ficou pequena para a multidão de pessoas que
chegavam, de todo canto apareciam faixas, cartazes, um verdadeiro exército.
Uma das frases do cartaz dizia assim: “ Não mate quem nunca lhe fez mal”
O prefeito ao chegar se sentiu envergonhado, começou seu
discurso, nada falou da mangueira, o motivo era apenas pedir votos.
- Fiquem tranquilos, no lugar teremos uma linda praça,
plantaremos novas árvores.
Mais uma vez, o prefeito saiu embaixo de vais.
“Fora Prefeito. Fica a nossa mangueira”
A população começou a fazer acampamento embaixo da
mangueira.
A notícia se espalhou, alguns dias depois da manifestação
chegava na vila uma camionete que chamou a atenção de todos, o medo de que a
mangueira fosse realmente morta deixavam apavorados.
Ao estacionar, muita gente correu para saber se vieram
derrubar a mangueira.
A notícia que o homem deu deixou todos felizes, eram
palmas, chapéus jogando para cima em sinal de vitória.
A ordem era tombar a mangueira como patrimônio público,
nenhum dano seria permitido, nem uma folha poderia ser arrancada, todos
continuariam usando e usufruindo das suas sombras, consumindo seus frutos,
cuidando e zelando como sempre vinham fazendo.
Essa foi a vitória de todos que se uniram pela luta. Uma
linda placa foi colocada ao lado: Mangueira centenária batizada com o nome de
Anastácia.
FESTA DE INAUGURAÇÃO
Um palco foi armado próximo a mangueira, naquele dia seria
inaugurada a água e luz elétrica. Uma luta de Alice para conseguir.
A pracinha enfeitada de bandeirinhas e balões, até repórter
apareceu para registrar aquele acontecimento.
Uma multidão chegava de carroça, bicicleta, cavalo e outros
a pé com o sorriso de felicidade estampado em cada rosto.
Teve música com banda da cidade, os aplausos duravam entre
chuvas de papéis picados.
E foi assim, que Alice mesmo sendo muito jovem teve a força
de lutar pelo bem de todos.
Já decidi! Gritou toda feliz, Vou ser ambientalista,
nenhuma árvore será derrubada, outras tantas serão plantadas, vamos arborizar
ainda mais a nossa vila, cuidar para gerações futuras como fez dona Anastácia
que plantou essa nobre mangueira para que todos pudesse usufruir dos seus
benefícios.
Foi assim a luta pela preservação da mangueira, que
balançando seus galhos em forma de agradecimento encerrou a sua história.
Autoria- Irá Rodrigues